segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

ABELHA


(Imagem de Tarcio Oliveira)



Minha música não tocou. Nunca!
Tudo não é questão de ouvido. É mais primário Nesse caso. Coisas mais simples são às vezes as mais difíceis de entender.
Sei, a vida está no ar, na cratera, na água - no pulso, pulsar.
A vida está em tudo.
Mas sei que passei mesmo a vida morando em mim...Não por escolha, circunstancia – morar ou morrer.
Não sei mais o motivo de pintar a casa pelo Natal. Já está branca e as cores iriam tornar os arredores transparentes; assim é melhor, posso sentir o colorido das doces ilusões na hora em que o Sol, em sinuoso e mudo movimento, se estreita por trás dos montes, deixando toda a atmosfera alaranjada, morna, diante da frieza das primeiras estrelas no firmamento.
Quero capim, lenha e chuva. Nem de roupas preciso, tenho tantas e moda não passa de uma invenção.
Tudo bem, só vou pintar os portões, ha, isso sim!
Portões brancos e não foscos com as samambaias, os crotes e ipês desenhados por cima.
Perdi muito tempo escolhendo cores, arco-íris em tom de pétala.
Perdi muito tempo juntando os cacos, catando os pedaços, fazendo piruetas para não sentir o pulsar, pulsar, pulsar.
Colei umas peças - a cabeça da boneca, a bicicleta alugada, a casa pequena, a família.
Chuva não combina com lama. Tão limpa que me banha as vestes antigas. Saio como cantigas de ninar... Já disse pra que tanta roupa? Só pra dar trabalho mais tarde aos parentes.
Preciso das flores, das folhas secadas ao vento.
Preciso de risos, de esquecimento de mim, por momentos.
Preciso apenas de flores!

Verônica aroucha
fevereiro de 20009

2 comentários:

MARIAESCREVINHADORA disse...

Belo texto, amiga Veri.
Abelha lembra mel, natureza, sol, brisa, alegria, vida!
Parabéns.

Beijo

Poeta Carlos Maia disse...

Que Lindo, Verônica!!!

Como vc se derramou e abriu os mais recônditos rincões da sua alma nele!!!

Parabéns!!!