quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Aparência



De que cimento você foi feita, moça?
Cai e não arrebenta, chora e a chuva seca todos os prantos,
bate no rosto; e um sorriso acaricia forte a face alheia.

De que cimento, moça, você extrai tanta força?
Você se lança no escuro, se dá como ponte, e ainda continua inteira?
Já pensei que seu coração fosse de tijolo aparente, porque está tão visível esse seu jeito de não ser,
esse seu jeito de não ter, esse seu jeito de dar risadas toda prosa.
Mas de que cimento, moça, se você se curva diante da beleza de um Céu,
diante da cachoeira, diante da criançada, diante de uma estante,
diante da passarada, diante do canto de uma cigarra?

É cimento, é cimento, forte e livre como o vento.
Diante de um nada e de um imenso vazio, de onde sempre se esbarra.


Verônica Aroucha.