sábado, 29 de dezembro de 2007

INESPERADA


Inesperada.

Ele não entendia dessa minha alegria.
Viu meu entrar pela noite
Sem enluarar meus olhos
Ele não entendia dessa minha alegria.
Pulando entre chuvas,
Atingindo em cheio o Sol.
Ele não entendia tanta alegria.
Os farelos de pão jogados
Eram presentes dos pardais.
Como poderia alegria?
Ele entendia!
Os coloridos todos eram bolhas de sabão.

Verônica Aroucha

sábado, 8 de dezembro de 2007

Minha irmã Fátima do Céu


Fátima não morreu.
Ela faz parte das falanges da Eternidade
Onde os raminhos estão sempre crescendo.
A sua maneira desprovida de certas vaidades valoriza o correto, o afeto e o amor.
Deus precisou dela e nos tirou para uma viagem dolorida.
Quando veres uma árvore frondosa,
um jardim florido,
um cachorro,
um ancião e uma criança: olharás para os olhos cinceros e claros de Fátima Aroucha.
Felicidades a todos que por ela colhem flores e sorriem.
Bjs, Verônica

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Homeanagem a Alberto da Cunha Melo


A Claudinha: meu amor, minha vida, meu tudo.


Escutei teu grito de dor
Perda de um filho-amor.
Tua voz eu escutava sempre cálida
Cantando meus versos, abrindo minhas janelas:
Coisas de passarinho...
Recebia no bico o teu carinho
E, com amor de menino recebia teus afagos;
Nos meus cachos dourados.
Hoje, sou teu amor de Anjo.
Anjo-passarinho.
Encontrei entre minhas asas machucadas,
Um raminho cheiroso de flor
E quando fui dormir,
Minhas asas floresceram belas e brancas
E voei no imenso Arco de Luz!
Meu bem,
Um dia, na hora em que todos os pássaros
Rumam
A festa será nossa de novo
Agora, apenas canta.
Preciso escutar teu riso de passarinho pequenino
E me sentir de novo e para sempre
Teu eterno menino-passarinho.

Verônica Aroucha, seingela homenagem a Alberto da Cunha Melo e Cláudia Cordeiro.


quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O Tempo


Fugiu

Juntei várias cascas, folhas.
E na infusão molhei meu coração.

Deixei-o guardadinho diante da dor.

E o tempo, o tempo foi tanto,
Que quando dei por mim
Meu peito estava vazio.

Meu coração durante um longo sonho
Havia boiado...

No Mar de água doce dos lábios teus.

Verônica Aroucha

11/10/2007

domingo, 30 de setembro de 2007

Feliz Aniversário


supérflua (Feliz Aniversário).....................

Vim me apresentar!
Dar parabéns a mim
E abraçar-me.
Fiz um bolo
Com remendos de amizade,
De gente que estende a mão
Esquece os olhos nos olhos...
Hoje não!
Vim me apresentar
Com nome e sobrenome.
Inúteis detalhes,
Porque eu só queria mesmo,
Era me apresentar...
Ser essa figura efêmera:
Pedaços de por de sol,
Salpicada de um pingo de mar.
Vim me apresentar,
Mostrar a minha cara
Indiferente.

Tanto quanto meu coração,
E me jorrar nos ramalhetes alheios.
Pego de lá um tantinho,
Molho a minha lua com Sol-
- Evaporando, escaldando a interminável
Trilha do Tempo, que me faz rir.
Prazer em conhecer!
Prazer, prazer.

Verônica Aroucha
01/10/2007

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Devaneios



Quando um dia,
Eu ganhar um coração
No formato de uma estrela
Cor-de-rosa
Será teu de novo!
Lembras...
Arrumei uns ramos verdes,
As flores azuis, no entardecer do tempo.
E brinquei na aspiral da demência...
Agora, não te privo de instantes.
Roubei com pressa,
Para não escutar que não me pertenciam.
Com medo de tocar
O impenetrável da tua alma,
Que me virava o rosto
Que se enjoava de mim
Sem nunca ter sentido meu gosto...
Como areia que cai e se esvai
Sem montes.
Quis ser montanha!
E neste espaço de intenso abandono -
Castigavas!
Ao sereno frio,

Com teus perfumes das flores da vida:
Em mim – tão ausente.
Sinto que morri,
Mas só dormi...
Meu doce amor de abandono.
Ainda espero o amanhecer dos meus sonhos
Com o toque da tua paz em mim.
Cobre-me...

Verônica Aroucha
3/11/2006

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Sem Pressa

Shirley Temple

Sentia tanta pressa! Enrolava os cabelos e passava batom.
Saía descalça para comprar no armazém da frente de casa miçangas e farinha de trigo para o bolo.

Sempre atravessando correndo, como se o mundo fosse um segundo e à tarde já anoitecesse. Profundo medo de não viver. E viveria?
Aproveitava a água e deixava as costas molhadas. Segurava o relógio e seguia como um raio.

Sentia tanta pressa! Foi comprar o cartão de Natal – restava algum tempo, e uma cartinha... O endereço era desconhecido. Voltou.
A pressa acabou.

Passa o secador nos cabelos, rapidamente. Pinta as unhas durante a madrugada, escutando o canto de um pássaro em cima dos fios.
Faz o colar aos poucos: todo o dia costura Sol e Lua.

Quando entra no Mar, enche-se de conchas...
e caminha sem pressa de lugar algum.

Verônica Aroucha

Agosto/2007



segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Eduardo, meu filho... Parabéns!!!

Hoje é o dia mais feliz do mundo.
Meu filho acaba de nascer há 20 anos atrás.
Eu fechei todas as portas da luz incerta para abrandar minha sede de felicidade, por teus olhos!
Ah, teu sorriso...
Teus abraços.
Nossos medos
Nossas descobertas
Nosso conforto de termos.
Deus te proteja e sejas muito feliz!
Com muitos beijos,
Mainha.
Alegria


Hoje só quero alegria.
Seja ela tardia, ou sem demora.
Pequena; colorida e amiga.
Daquela que contagia...
Quero alegria de um dia de sol,
De uma noite de chuva,
Quando me descubra no clarão do luar.
Quero alegria do riso, sem a tristeza do pranto.
Alegrias solitárias, repartidas...
Somadas e divididas.
Que a minha parte, seja só de alegria...
Contida, sumida, fingida...
Capaz de se superar.
Espero-te alegria.
Vem me encontrar.


Verônica Aroucha


Maio/2003


sexta-feira, 24 de agosto de 2007

No breve olhar


Superfície

A superfície arranhou.
Não queria me oferecer assim marcada.
Viajei entrelaçada pelos teus dedos
Desejando meu ser límpido, suave ao toque.
aveludada.
Onde possas decifrar os signos de forma translúcida,
Fazendo em meu corpo a leitura da lua.
Não queria me dar assim meu amor.
Na áspera folha,
Queria apenas lhe perfumar como uma flor.
Não pensei em deixar nas tuas mãos marca de olhos.
Brilho perolado...
Minhas asas entre tuas mãos:
Era apenas uma borboleta.

Verônica Aroucha

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Sonho



Desejei ser ao menos uma lembrança.
Percebi que não poderia;
Porque de mim, nada tens a lembrar...
Desejei ser apenas uma ausência – parte inacabada de ti.
Compreendi o quanto és completo sem mim.
Agora não desejo nem mesmo ser uma leve recordação...
Tudo que possas me oferecer,
Não me cabem.
É tão pouco.
Por isso,
Peço-te apenas a suavidade de um sonho
Não sonhado.
Toda a manhã olha o Céu para ver se já nasci.
Quem sabe, logo a noite
Uma Estrela irá surgir?


Verônica Aroucha

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Meus pés descalços sobre um chão incerto, me faz precipitar que alcanço o paraíso


E para não enlouquecer, às vezes aparecem

Os Trilhos do Trem
Algumas heranças não são boas.
Quero falar de hábitos
Às vezes, quando se quer muito, não se consegue estar feliz.
A solidão é acompanhada e solitária.
Só você pode percebê-la e senti-la e, no entanto,
Tudo continua como antes em todos os reinos.
Menos para você.
As portas da insanidade entreabertas,
deixando aparecer um rasgo de lucidez.
Só um.
Para que mais do que isso?
Um só é o suficiente
para devolver os trens aos trilhos.

Sílvia Câmara

19 de Agosto de 2007 07:35

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Ao cair gotas das loucas palavras




O Assinalado
Cruz e Souza


Tu és o Louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.
Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu'alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco.

Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!


quarta-feira, 8 de agosto de 2007

A Saudade Mesquinha



A saudade mesquinha
Na varanda da saudade
me debruço e choro
a tua ausência
nessa tarde

na varanda da saudade
deixo para trás
o amor que não volta
nunca mais

e passo a sorrir
como louca sozinha
por chorar e sentir
a saudade mesquinha

de ti, de alguém
que criei e sonhei
a quem e ninguém
pertencerei.

Conceição Pazzola
16/2/2007
.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Contando Passo


A um Passo

Certamente foi no mês de janeiro. Manhã de Sol forte e aroma de vida. Pulsava em mim um medo de morte. Meu coração descompassado e minhas mãos sempre tão frias!
Eu ligava. Ligava e o telefone quebrado. Vários dias. Havia sido um pedido; razoável como meu sonho. Mas, não era um apelo de amor.
Era quase uma ordem - tocar fogo de vez e acabar com as ilusões secas, onde nem as lágrimas molhavam o chão. Os remédios para serem doados ao asilo era pretexto.
Naquele dia, minha alma agarrou-se ao corpo com intensa força. Acho que seria ridículo morrer; seria justo.
Continuei minha caminhada, trêmula e triste. Como se fosse cair de um despenhadeiro, entrar no fundo do mar, ou atingir em cheio a Aurora Boreal.
Amor ao desconhecido. Tudo fica menos quando só é sentido pelo outro. Não tem a menor importância. Eu o assustei. Era uma estranha; talvez uma louca!
Li seu pensamento que era a única coisa tocável para mim. Ler enganos, Castelos. Sem rei e sem rainha.
Ele parecia mais sério naquele dia do pedido ao telefone: Venha pegar os remédios pessoalmente; não mande portador.
A alegria me torturava. Continuei andando, andando pensando na minha única imoralidade, contra o mundo, contra a mim, a ele. Amar...
Eu sentia que estava perdida, perdida de mim. Eu era minha pobre criança, mas não, não. Eu era uma mulher.
De repente, me bate um cansaço. Exagerei na caminhada. Sento no banco, perto das mangueiras. Tantos pássaros, borboletas, uma maravilha de jardim.
Escuto um barulho; algo caiu – uma manga! Madura, bem perto de mim. Peguei rápido, antes que fosse achada por outra pessoa.
Era um “sinal” de felicidade, claro!
Naquele dia, enfim, consegui telefonar, combinar o horário. Fui, lembrando ainda do gosto da manga-rosa.
Que Deus me perdoe, a fruta não havia sido para mim.

Verônica Aroucha



quinta-feira, 2 de agosto de 2007


Insanidade

Eles nos sanam.
Compreendem a nossa mudez
Quando precisamos.
Amarram os nossos sapatos
Quando precisamos.
Eles nos sanam.
Com chás de folhas
E flores de plástico.
Compreendem a nossa rigidez.
Zombam da nossa languidez
Relaxam...
Compram o nosso pão,
E repartimos felizes.
Alimentam nossos vazios...
Eles nos sanam,
Simplesmente porque fingem enxergar.
Fazem dos ouvidos
Barulhos da inocência.

Verônica Aroucha
Agosto/2007

Pema da Pedra Cósmica


POEMA DA PEDRA CÓSMICA

Doce como um cordeiro,
livre como um falcão.
Tecendo a sua vida
como a aranha
tece a sua teia.

Tranqüilamente só
que a vida é solidão,
muito mais do que a morte.

Simplesmente zen
que o equilíbrio
é movimento
alimentado pelo tempo
que a tudo transforma.

Firme como uma rocha
a enfrentar tempestades;
inteira, mas dividida
em duas metades.

Pedra cósmica,
sólido equilíbrio
a cavalgar o tempo,
atravessando a vida.

Pedra cósmica,
miragem na linha do horizonte,
a dividir o que é
do que será.

Clóvis Campêlo
Recife, 1992

terça-feira, 31 de julho de 2007

Consul - PE


Alberto da Cunha Melo
[Cónsul - Estado do Pernambuco - Poetas Del Mundo]


RELÓGIO DE PONTO

Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim os jogos,
a poesia, todos os pássaros,
mais do que tudo: todo o amor.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e atravessaremos os córregos
cheios de areia, após as chuvas.

Se alguma súbita alegria
retardar o nosso regresso,
um inesperado companheiro
marcará o nosso cartão.

Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim as faixas
da vitória, a própria vitória,
mais do que tudo: o próprio Céu.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e lavaremos as pupilas
cegas com o verniz das estrelas

quinta-feira, 26 de julho de 2007


Amor Ideal

De repente meu subconsciente adentrou-se pelo teu por solos imagináveis. Eram quase existentes.
Mas a mentira era verdade. Eras então meu pai, tão reservado, eu simplesmente tua mãe. Ávida de ti; precisava sempre olhar teus olhos para sentir que estavas bem.
Nossos espelhos se fundiram. E olhamos um para o outro; pais e filhos em pleno resgate milenar.
E queria tanto ouvir dos lábios do meu pai o quanto ele me queria bem. Sem nunca escutar.
Mas, eu como sempre mãe, dizia a toda hora, no vazio de todos os segundos o quanto te amava e se um pedaço de mim se ia cansado, envelhecido, esse outro meu lado aqui ficava.
E dizer de novo como se fosse ainda meu lindo bebê: cuide com carinho porque os meus olhos são os mesmos a te seguir pelos caminhos. Velam por ti.
O espelho do físico se partiu diante da dor da ausência.
Agradeço as palavras que nunca ouvi, porque aprendi a ler a voz do teu coração: dorme querida; só um pouco de sono. Meus braços abertos esperam. Descansa tua dor.
Essa voz suave que nasceu de mim, como se fosse um filho.
Adormecendo temporariamente a mulher e o homem que nasceram para a unicidade.

Verônica Aroucha

03/10/2004

Gaivota Liberdade

Gaivota solitária,
que cruza os céus bailando
e com sua sombra faz desenhos
na areia branquinha da praia,
levas nas asas a liberdade
e sobre a terra a espalha.

Voa gaivota!
que quando para ti eu olhar,
lembrarei que em pensamento
eu posso te acompanhar.

Assim, voarei contigo,
levando em meus lábios
um sorriso amigo.
Farei um abrigo da verdade,
e do meu peito um suave pouso
para a gaivota liberdade.


Gerlane Melo

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Quem?


Tenho pressa em ser lenta
Debruçar-me em torno dos restos
Dos rostos
Dos pastos
De mim...
Tenho pressa em sorver-me
Abstrair o meu grito
Deter-me
Tenho pressa em nada ser
Não transparecer nenhuma marca
Provar que não existo

Verônica Aroucha
Reicfe/28/2/2006

terça-feira, 24 de julho de 2007


Canção grata

Por tudo o que me deste
inquietação cuidado
um pouco de ternura
é certo mas tão pouca
Noites de insónia
Pelas ruas como louca
Obrigada, obrigada

Por aquela tão doce
e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão

Que bem que me faz agora
o mal que me fizeste
Mais forte e mais serena
E livre e descuidada
Sem ironia amor obrigada
Obrigada por tudo o que me deste

Por aquela tão doce
e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão

Florbela Espanca

domingo, 22 de julho de 2007

Caminhando....Barquinho de papel




Olhar


Um espaço imenso nos separava: eu e o sonho. Sonhar acordada com a felicidade é loucura demais.
A minha ficção brincava com o real. Enxergava meus olhos que aparentavam cores; minhas pernas corriam e meu coração se fartava de alegrias em alguns momentos.
Por que então, aquele espaço de medo continuava a me invadir?
Ou eu a ele...
Que importa - estava sempre na minha frente. Compreendi que é a parte irrealizável do meu instante.
Em nenhuma hora, em nenhum passar do tempo eu conseguiria penetrar.
Tal segredo não é permitido aos mortais. Preciso mais e mais. É preciso voar.
Poderia ser uma lagoa, uma cachoeira ou simplesmente um deserto.
Mas eu queria sim penetrar por todos esses segredos do meu universo.
Tudo que temo não ocupa espaço no olhar de outrem...
Mora tudo em mim: barquinhos na água são meus olhos chorando;
Montes verdejantes sou eu também, quando me sinto forte.

Verônica Aroucha
Recife - PE

Entrando no Universo



O Ponto

Somos opostos em quase tudo.
Nada temos em comum.
Salvo em um ponto...
Deixa-me acordar para ter a certeza que uma reta nos une.
Naquele ponto em a gente não enxerga;
Não provém da física, nem da metafísica.
É um ponto tão pequeno;
Uma partícula menor que a um átomo.
É o ponto em que me enquadro e me liberto.
Sem informações intelectuais armazenadas;
Não possuo capacidade de apreensão fácil;
Tenho o tato meio sensorial.
Nada entendo da vida
Da imensidão do cosmo!
Mas, afirmo e teimo:
Um ponto!
Num ponto,
Nos encontramos...
No ponto de teu canto.
Se algum dia, compor alguma música;
Fizer uma poesia, ou escrever um conto
Deixa-me no ponto.
Por ironia, te encontrei em todos os pontos,
Nas linhas retas
Nas curvas
Quando olho a lua...
Na beleza de tudo que existe gravado em mim
Em que ponto meu ficou gravado em ti?

Verônica Aroucha

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Brincando na Chuva




Chuva

Chuva pára de chover!
Parece que é a última trilha
Nem sequer molhei os pés...
Chuva pára de chover!
Não vê que fica seca a minha morada?
Tanta água que do céu desce...
parece ser derradeira
Meu jardim em flor...
O amor não secou
A folha fica no chão
A flor ainda em botão
Doida para ver
Viver
Chuva pára de chover
Quem sabe consigo ainda me molhar
Saciar a minha sede
Derreter minhas vestes
Na enxurrada ser levada
Minha última estrada de sol...




Verônica Aroucha

Entre Brancas Nuvens


Cadeira de Balanço

Que dor é essa que cobre meu corpo com casca inexata? Sabe que gosto das cores certas, do conhecimento certo, do alvo certo.
Essa casca que cobre meu corpo não é assim tão dura. Pior é a dureza do coração.
Não acreditar mais nas cores é perder de vista a esperança.
Por que haveria de ser assim?
Tudo bem, eu me descasquei toda; arranquei com as unhas os meus pedaços de cor – eu precisava sobreviver à imensa falta de palavras. Até a rubrica me faria sorrir.
Mas nada chegava nos tempos mornos em que eu suplicava por tua presença
Deus! Que deserto queimou meu corpo. Lá não existia sol. Era deserto de vento.
Arranquei assim, meus pedaços de pele como se quisesse me transformar em uma cadeira. Sem sentimentos.
Como deve ser doce, calmo e bonito um coração sem arranhão. Um coração de criança.
Eu me esforcei – fiz de tudo para não perceber. Mas ela, a dor...Surdina e fria fez de mim assim, uma pessoa parecida, não a uma flor, meu sonho; não a um passarinho, meu ideal...
Ela me fez parecida com uma cadeira:
Forte. Sirvo ainda para embalar um bebê; um ancião. Sirvo de lugar a quem deseja sentar e sonhar, olhando um lindo pôr-do -sol.
Sirvo, sim. Confie – tenho a perfeita solidez...Discreta e pacata.
Se confiasse em mim veria que sirvo de amparo.

Verônica Aroucha
01/12/2006

sexta-feira, 13 de julho de 2007




Sou Duas

Cada dia que passa
Levo-me um pouco
Sim, porque sou duas
Uma vive
Outra morre
E assim mais um dia se vai
Eu cada dia menor
Até voltar a ser criança
Quando então serei uma
E basta.

Verônica Aroucha

Teatro


Meu bem imaginário
Meu canário
Meu anjo
Meu bandolim suspenso
Submerso nos meus porquês de amores
Escassos
Ruídos de chafariz
Correnteza larga
Nas sagas dos trampolins
Tiro certeiro no peito
Meu querer sem ter fim
Mãos que brincam no palco
Gelo no asfalto
Risadas de mim.


Verônica Aroucha

Passando a limpo


A Boneca

Não transparecia forma de gente, de menina.
Não usava tranças, nem pairava em seu semblante um sorriso de tinta vermelha...
Mas era uma mulher, sem textura de carne, sem alma.
Alguém que brincava de raiar que nem a lua cheia
Completa, na sua imensa solidão.
Não havia emoção naquelas pernas irrequietas e mudas.
Era um suave andar na contramão.
Não possuía mãos, eram apenas luvas alvas, com perfume de lenço de adeus.
E coração, não existia também... No lugar, sempre estava um ramalhete de flores do campo.
Flores sempre verdejantes.
Era assim seu alicerce.
Apenas flores e nada mais.


Verônica Aroucha